Câncer de mama: maioria desconhece os fatores de risco para a doença

Camila Bonfim

De janeiro a junho desse ano, 72 mulheres amazonenses morreram em decorrência do câncer de mama (57 dessas mortes aconteceram em Manaus). Os dados divulgados pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) às vésperas do início do “Outubro Rosa” nos lembra que mais do que vestir rosa ou iluminar monumentos, o que a sociedade precisa mesmo é de informação de qualidade a respeito do câncer de mama, pois, sendo este o tumor mais comum entre as mulheres (o terceiro mais incidente no Estado), ainda prevalece alguns equívocos acerca dos fatores de risco.

Prova disso são os resultados da pesquisa feita pelo Ibope Inteligência em parceria com a farmacêutica Pfizer intitulada “Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?”. Um formulário virtual foi aplicado on-line em diferentes regiões metropolitanas do Brasil, como as das cidades como São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. O resultado foi divulgado na última quinta-feira durante o lançamento da segunda edição do projeto “Coletivo Pink – por um outubro além do rosa”, na Casa das Rosas, em São Paulo.

A pesquisa apontou que há uma percepção de que os tratamentos contra a doença estão mais avançados, mas fatores de risco como consumo de álcool  ainda são ignorados por até 90% das  pessoas. Também constatou que as mulheres brasileiras ainda vivem em um contexto permeado de mitos a respeito do câncer de mama. Entre eles informações desencontradas sobre o diagnóstico precoce.

De acordo com a pesquisa, 80% dos brasileiros estão convencidos de que o autoexame de mamas (o toque feito pela própria mulher nas axilas e nos seios) é a principal medida para identificar a doença precocemente. O que é um equívoco, como ressalta a diretora médica da Pfizer, Márjori Dulcine, porque, quando o tumor é palpável, muitas vezes, já se encontra em estágio avançado.

“É importante tocar as próprias mamas para conhecimento corporal, mas muitas sociedades médicas deixaram de recomendar o autoexame como método preventivo uma vez que, ao não detectar alterações durante o toque, a mulher pode acabar se afastando do médico e adiando a realização da mamografia, que pode detectar alterações muito pequenas e ainda não palpáveis, o que aumenta as chances de sucesso no tratamento”, explica a especialista.

A mamografia é uma radiografia feita por um equipamento chamado mamógrafo, capaz de identificar alterações suspeitas de câncer antes que seja palpada qualquer alteração nas mamas. O Ministério da Saúde (MS) orienta que todas as mulheres entre 50 e 75 anos se submetam ao exame de mamografia a cada dois anos – embora muitos especialistas recomendem que seja realizado anualmente a partir dos 40 anos.

Mesmo assim, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão da MS, 15% das brasileiras com idade entre 40 e 69 anos nunca fizeram a mamografia. Segundo projeção mais recente do órgão, cerca de 440 novos casos de câncer de mama devem ser registrados no Amazonas esse ano.

A chefe do Núcleo de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa), Lúcia Marques Freitas, reforça que todas as mulheres, independentemente da idade, devem procurar conhecer seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. “A maior parte dos cânceres de mama é descoberta pelas próprias mulheres. Além disso, o MS recomenda que a mamografia de rastreamento, que é realizada quando não há sinais, nem sintomas suspeitos, seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos a cada dois anos”, explicou.

Mitos sobre a doença são comuns

Os dados da pesquisa “Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?”, do Ibope Inteligência, também apontam que outros mitos antigos associados ao câncer de mama ainda persistem no imaginário popular.

Apenas 38% dos entrevistados estão certos de que esquentar alimentos no microondas não aumenta o risco de ter a doença. Além disso, 39% dos participantes não sabem afirmar se é verdadeira ou falsa a afirmação de que usar sutiãs com bojo (estruturados) poderia deixar a mulher mais suscetível ao tumor.

O diretor-presidente da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), Gerson Mourão, alertou que é preciso também desmistificar para a população que o uso de desodorante, à noite, pode causar câncer de mama. “Isso não existe. As pessoas precisam evitar o estresse, fazer exercícios físicos e ter uma boa alimentação”, disse.

Abertura da campanha será no T.A

A Fundação Cecon realizará, na próxima terça-feira, às 18h, no Largo de São Sebastião, Centro, a abertura oficial da 10ª edição do Movimento Mundial Outubro Rosa. Com o tema “Me trate direito, para cada paciente um tratamento” e a hashtag #MetrateDireito, serão promovidas, neste ano, ações de conscientização sobre a importância do tratamento individualizado e personalizado, com respeito aos direitos e a identidade de cada mulher.

A abertura oficial da campanha  será marcada pela iluminação da fachada do Teatro Amazonas com a cor rosa, simultaneamente com outros monumentos da capital e do interior.

Durante todo o mês de outubro, serão intensificadas as mamografias nas UBSs, além da realização de palestras em empresas do Distrito Industrial, hospitais, igrejas e escolas de todo o Estado. As atividades contarão com a participação de profissionais da saúde  voluntários.

‘Alguns tipos podem evoluir rapidamente’

Outra percepção errônea sobre a doença identificada na pesquisa é a de que a “herança genética” seria uma das principais causas (cerca de 71% dos entrevistados acreditam nisso), o que, de certa forma, explicaria a decisão de algumas mulheres de não fazerem exames regularmente por não terem nenhum familiar com câncer.

No entanto, na realidade, a genética está presente em apenas 10% dos tumores mamários. O diretor-presidente da Fundação Cecon, Gerson Mourão, explica que 90% desse tipo de tumor tem o desenvolvido associado a outros fatores, como obesidade, consumo excessivo de álcool, tabagismo, sedentarismo, estresse, entre outros.

“Existem situações singulares que aumentam as chances de desenvolvimento do câncer, por exemplo, a mãe e irmãs teve câncer de mama. São casos que exigem uma atenção maior. Todavia, são exceções”, alertou o médico especialista.

Alguns entrevistados atribuíram o aparecimento da doença à conduta da própria mulher: 35% afirmam que o câncer se manifestou porque a paciente não teria feita todos os exames preventivos necessários, ao mesmo tempo em que 40% estão convencidos de que um câncer de mama se espalha para outras partes do corpo porque a mulher teria demorado muito tempo para fazer os exames preventivos.

A médica oncologista Marina Sahade, do Hospital Sírio-Libanês, esclarece que existem alguns tipos de câncer muito agressivos que podem se desenvolver entre uma mamografia e outra, em poucos meses.  “Transferir a culpa para a mulher só alimenta o preconceito e dificulta o enfrentamento do problema. Ter metástase [quando o câncer se espalha pelo corpo] não significa, portanto, que a paciente se descuidou da saúde. Mesmo quando descobertos em fase inicial, alguns tumores são bastante agressivos e podem evoluir rapidamente”, disse.

Outro dado que chamou a atenção é o desconhecimento dos entrevistados sobre a relação que existe entre o consumo de álcool (mesmo em baixas doses) e um risco maior para o câncer de mama. Apenas 10% das mulheres reconhecem essa afirmação como verdadeira. De acordo com o Inca, o consumo de álcool (mesmo com moderação) pode alterar os níveis de estrogênio, hormônio que está relacionado a uma porcentagem elevada de tumores mamários.

“O fator ambiente, onde há sedentarismo, contribui e muito para o câncer de mama. Cerca de 30% dos casos poderiam ser evitados a partir da adoção de hábitos saudáveis de vida, como a manutenção do peso adequado, a prática de exercícios físicos, restrições quanto à ingestão de bebidas alcoólicas e consumo exagerado de embutidos (salsicha, bacon etc)”, destacou.

Fonte: Acrítica.com