Amazonas ocupa 6º lugar no ranking de mortalidade infantil, diz IBGE

Camila Bonfim

O Amazonas está em sexto lugar, entre as unidades federativas do Brasil, no ranking nacional de Estados com maior número de mortalidade infantil, conforme dados da projeção oficial de mortalidade de 2018 divulgados, na quinta-feira passada, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Amazonas contabilizou 17,2 óbitos a cada 1 mil bebês nascidos vivos, conforme o órgão.

Mas o IBGE apontou que os níveis de mortalidade de crianças menores de um ano caíram no Estado em relação a 2017, quando foram registrados 17,7 óbitos. Como estratégias para reduzir estes índices, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) afirmou que reforçará estratégias e políticas de primeira infância.

“Nessa última década, nós estamos atuando em várias estratégias de redução de mortalidade infantil com atenção especializada no período neonatal (que corresponde as quatro primeiras semanas de vida da criança). É crucial para essas crianças estratégias desde a reanimação neonatal à qualificação de assistência tanto médica quanto de enfermagem para que aconteça um parto humanizado e seguro para as gestantes”, afirmou a coordenadora Estadual de Saúde da Criança, Rhamilly Amud Karam.

E sobre o panorama nacional, em que o Amazonas aparece em sexto lugar no índice de maior número de mortalidade infantil, Rhamilly ressaltou a dificuldade de atuação dos profissionais nos locais mais distantes do Estado em termos de logística. “A nossa região possui essas peculiaridades. As políticas públicas muitas vezes não chegam as comunidades indígenas e ribeirinhas, então, a gente tem dificuldade de logística intersetorial para trabalhar em relação a todas essas questões”, explicou a coordenadora.

Rhamilly Amud acrescentou que para reverter esse quadro negativo sobre a mortalidade infantil no Amazonas existe um programa piloto de primeira infância que deve chegar aos municípios e localidades mais distantes. Em princípio, está sendo implementado em Lábrea, que fica a 702 quilômetros a sudoeste da capital Manaus, no médio curso do rio Purus.

“Nos últimos dois anos, nós estamos trabalhando a política em primeira infância, que é uma estratégia que envolve a atenção integral da criança, na educação, saúde e assistência como um todo e que será implantado em todos os municípios”, afirmou coordenadora Estadual de Saúde da Criança.

A mortalidade das crianças menores de um ano é um importante indicador da condição socioeconômica de uma região. Para a profissional, o cuidado durante o pré-natal, as ações que destacam a importância do aleitamento materno e o avanço na cobertura de vacinação à recém-nascidos são medidas essenciais para a diminuição do índice de mortes.

“A gente tem que qualificar o nosso pré-natal, o nascimento e esses primeiros dias que são cruciais para a saúde dessa criança. Sinônimo de um bom pré-natal é aquele que há sete consultas ou mais e que a mãe precisa ser acolhida”, finalizou.

Nível municipal
Em Manaus, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) informou que a ocorrência da mortalidade infantil é multifatorial e está intimamente relacionada às condições maternas, principalmente, quando se trata das doenças de transmissão vertical e da falta de adesão ao aleitamento materno, especificamente, nos seis primeiros meses de vida da criança.

Neste contexto, a Semsa afirmou que vem fortalecendo o atendimento ao pré-natal por meio da qualificação dos profissionais de saúde. A secretaria também está ampliando o acesso com a implantação da rede de testagem rápida de doenças de transmissão vertical (mãe-bebê), da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) e da Triagem Neonatal.

O órgão municipal também garantiu que está realizando ações de implementação da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB) nas unidades de saúde de Manaus. Outra medida é a implantação da linha de cuidado de crianças, adolescentes, e suas famílias em situação de violência.
Unicef destaca ‘reducão histórica’

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) produziu um relatório que confere ao Brasil reconhecimento por ter melhorado, ao longo dos anos, índices como o da mortalidade, do trabalho infantil, além da exclusão escolar. Conforme o Unicef, de 1990 a 2017 registrou-se “redução histórica” no total de mortes de crianças menores de um ano de idade. No período, a taxa nacional caiu de 47,1 para 13,4 a cada 1 mil nascidos vivos. Além disso, entre 1996 e 2017, 827 mil vidas foram salvas.

As ações de mitigação articuladas pelos governos geraram efeitos de âmbito nacional, causando impacto também em São Paulo. No Estado da região  Sudeste, a redução do índice foi de 22,5 para 10,9, de 1996 para 2017, quando 103 mil vidas de bebês foram salvas.

A queda nos índices de cobertura vacinal, adverte o Unicef, tem sido porta de entrada para doenças que eram, até recentemente, consideradas erradicadas, como o sarampo. “Em 2016, a mortalidade infantil subiu pela primeira vez em mais de 20 anos e ainda não voltou aos patamares de 2015, acendendo um sinal de alerta. No total, 42 mil crianças menores de 5 anos ainda morrem por ano no Brasil”, informou a ONU.

A representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, afirmou que o País deve consolidar os avanços já conquistados até agora, voltando a atenção para a primeira infância e a adolescência. “Os indicadores, em sua maioria, são piores no Nordeste e no Norte do País. E piores entre as populações indígena, parda e negra”, declarou.

Florence exemplificou seu argumento comentando que não basta manter escolas, mas também garantir que todos possam chegar a elas, em especial as crianças em situação de vulnerabilidade social. “Por isso é preciso que as políticas, mais do que nunca, tenham um enfoque de equidade, não sendo suficiente dar as mesmas oportunidades para todos”, afirmou.

Fonte: Acrítica.com