Saúde mental: aumenta o número de professores com depressão no AM

Camila Bonfim

Os transtornos  mentais também afetam os professores e servidores das escolas do Amazonas. Na semana passada, uma reportagem de A Crítica mostrou que a problemática entre estudantes acendeu o sinal de alerta das secretarias de Educação. De janeiro a junho, 373 dos mais de 12 mil professores da rede municipal de ensino (3%) foram afastados por transtornos mentais e comportamentais. Já na rede estadual mais de 250 professores já foram encaminhados para atendimento especializado desde 2018. 

Fatores como quantidade excessiva de alunos, estresse pela jornada dupla (às vezes tripla), baixo salário, violência em sala de aula e assédio moral, estão entre os motivos mais recorrentes para os problemas de saúde mental nos docentes. 

Não há estatística disponível  sobre o número de profissionais realmente atingidos, mas é consenso que o problema  é crescente, principalmente os quadros de depressão e ansiedade. 

Casos

Um desses professores atingidos, que não preferiu não ser identificado, de 45 anos, está há um ano afastado da sala de aula por conta do vício em drogas. Segundo ele, o gatilho foi a rotina estressante na escola onde lecionava História para adolescentes do 9° ano. A combinação explosiva entre indisciplina e o desinteresse dos alunos o levou a desenvolver um quadro depressivo que o tornou mais vulnerável ao uso excessivo de entorpecentes.

“O desdém dos alunos afetava a minha autoestima. Eu já preparava a minha aula me sentindo ansioso e desanimado ao lembrar que para passar esse conteúdo eu teria que enfrentar aquele grupo baderneiro que acaba influenciando a turma toda. Tudo isso, a longo prazo, me gerou estresse. Passei a me sentir desprezado, desanimando, com medo de ficar desempregado e sem perspectiva de melhora. Me isolei de tudo e de todos e passei a abusar do uso de drogas como uma forma de fugir das minhas dores, mas eu só afundei”, disse ele, que admite que várias vezes pensou em dar fim à própria vida para acabar com aquele sofrimento.

Após muita relutância em admitir que estava doente e vários pedidos de afastamento do trabalho, o professor lembra que uma assistente social de um dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) o acolheu e conseguiu uma vaga numa clínica de reabilitação, onde ele ficou internado por três meses. 

“Após a internação tive recaídas. Retornei à reabilitação no início desse ano. Desenvolvi depressão e fobia de sala de aula. Até hoje lido com as sequelas, como insônia e ansiedade. Tenho frequentado um grupo de narcóticos anônimos que tem me ajudado muito. Estou há sete meses e alguns dias ‘limpo’”, contou ele, que está com retorno marcado para a sala de aula esse mês, mas admitiu que ainda não se sente seguro.  

Ações das secretarias

Tanto a Seduc-AM, Secretaria de Estado de Educação do Amazonas, quanto a Semed, Secretaria Municipal de Educação de Manaus, contam com iniciativas voltadas exclusivamente aos servidores das unidades de ensino.

Na rede estadual, a Coordenação de Atenção ao Servidor (CAS) realiza ações de promoção da saúde física e mental dos servidores. Em 2018, a CAS registrou 1.301 atendimentos psicológicos, sendo 1.143 da capital e 58 do interior do Estado, considerando doenças relacionadas à depressão e quadros de ansiedade. Centro e trinta e oito  professores de Manaus e 37 professores do interior foram encaminhados para acompanhamento especializado.

Este ano, até o mês de junho, já constam 62 atendimentos psicológicos relacionados à depressão e quadros de ansiedade. 59 da capital e três do interior, com 29 professores de Manaus sendo encaminhados para um especialista.

Atendimento aos professores

No início do mês passado (7), a Secretaria de Estado de Saúde e Qualidade de Ensino (Seduc)  implantou a Coordenação de Atenção Psicossocial Escolar (Capse) com o objetivo de desenvolver ações de prevenção e promoção da saúde mental nas escolas públicas  estaduais. 

Por meio  de uma equipe composta por 15 profissionais entre psicólogos e assistentes sociais, a Seduc oferece, aos alunos, acolhimento, escuta especializada e encaminhamento para a rede pública de saúde. 

Contudo, essa equipe tem que dar conta das 232 escolas espalhadas nos sete distritos de Manaus, que abrangem um universo de 220 mil alunos (no interior são 227 mil).

Fonte: Acrítica.com